segunda-feira, 5 de março de 2012

O tempo da Quaresma

Dom Béda Keckeisen OSB

Durante estes quarenta dias os cristãos se unem intimamente ao
s sofrimentos e a morte de nosso Divino Salvador, a fim de ressuscitarem com Ele para uma vida nova, nas grandes solenidades pascais.
Nos primeiros tempos do cristianismo, esta idéia fundamental achava sua aplicação no Batismo dos catecúmenos e na reconciliação dos penitentes. Por toda a liturgia da Quaresma, a Igreja instruía os pagãos que se preparavam para o Batismo. No sábado Santo infundia as aguas batismais na sua fronte, de onde saiam para uma vida nova, como Cristo, do túmulo. Por sua vez, os fieis gravemente culpados, deviam fazer penitência pública e cobrir-se de cinzas (Quarta - feira de Cinzas), para acharem uma vida nova em Jesus Cristo. Convém reparar nestes dois elementos, para compreender a liturgia da Quaresma e a escolha de muitos textos sagrados.

Nossa participação neste tempo

No ofício das Matinas do Breviarium Romanum, no 1º Domingo da Quaresma, lemos o sermão que o Papa São Leão Magno, no século V dirigiu ao povo, explicando a liturgia da Quaresma: “Sem duvida, diz ele, os cristãos nunca deveriam perder de vista estes grandes mistérios... porém esta virtude é de poucos. E por isso é preciso que os cristãos sacudam a poeira do mundo. A sabedoria divina estabeleceu este tempo propício de quarenta dias, afim de que as nossas almas possam purificar-se, e, por meio de boas obras e jejuns, espiarem as faltas de outros tempos. Inúteis seriam, porém, os nossos jejuns, se neste tempo os nossos corações não se desapegassem do pecado.”
Lendo estas palavras, parece-nos assistir a abertura de um retiro. Com efeito, a Quaresma é o grande retiro anual de toda a família cristã, sob a direção maternal, e segundo o método da Santa Madre a Igreja. Este retiro terminará pela confissão e comunhão geral de todos os seus filhos, associados assim, realmente, á Ressurreição do Divino Mestre, e ressurgindo por sua vez a uma vida nova.
As praticas exteriores que devem desenvolver em nós o espírito de Cristo e unir-nos a seus sofrimentos são: o jejum, a oração e a esmola.

O Jejum

É imposto Pela Santa Igreja a todos os fieis, depois de 18 anos completos até atingirem os 60 anos. Seria engano pernicioso não reconhecer a utilidade desta mortificação corporal. Seria menosprezar o exemplo de Jesus Cristo, e pecar gravemente contra a autoridade de sua Igreja. O prefácio da Quaresma nos descreve os efeitos salutares do jejum, e aqueles que por motivos justos são dispensados dele, não o estarão do jejum espiritual, isto é, de abster-se de festas, cinemas, teatros, TV, internet, leituras puramente recreativas, etc.

A Oração

Assim como a palavra jejum abrange todas as mortificações corporais, da mesma maneira compreende a palavra oração todos os exercícios de piedade feitos neste tempo, com um recolhimento particular, como sejam: a assistência a Santa Missa, a Comunhão freqüente, a leitura de bons livros, a meditação, especialmente da Paixão de Jesus Cristo, a Via Sacra e a assistência ás pregações da Quaresma.

A esmola

Compreende as obras de misericórdia para com o próximo. Já no antigo testamento está dito: “Mais vale a oração acompanhada do jejum e da esmola do que amontoar tesouros” (Tob. 12,8).
Praticando essas obras, os catecúmenos antigamente preparavam-se para o Batismo que iam receber no Sábado de Aleluia, enquanto os penitentes públicos se submetiam a elas com espírito de dor e arrependimento do coração.
Saibamos também nós que aquele que não faz penitencia perecerá para toda a eternidade. (Luc. 13,3).
Renovemos em nós a graça do Batismo e façamos dignos frutos de penitência. Os textos das Missas a cada passo nos exortam a isso. Entretanto convém evitar que a nossa piedade seja excitada por compaixão sentimental ou tristeza exagerada. Sim, é um combate, uma morte terrível que vamos contemplar, mas é também, e sobre tudo, uma vitória, um triunfo. Na verdade assistiremos a uma luta gigantesca do homem novo; ouviremos os seus gemidos, seguiremos os seus passos sangrentos, contaremos todos os seus ossos; mas isto é apenas um episódio de sua vida; o desenlace é um grito de vitória, um canto de triunfo.

Particularidades deste tempo

A cor dos paramentos é roxa, e preta na Sexta-Feira Santa. Omite-se completamente Aleluia, enquanto o Glória só se canta nas festas Santos. Os altares são despojados deis enfeites e o órgão se cala, menos no IV Domingo. No fim das Missas do Tempo, o sacerdote diz: Bendigamos ao Senhor, em vez de: Ite Missa est, para exortar os fieis a perseverarem na oração.
Cada dia deste Tempo tem a sua “estação”, com indulgências especiais e sua própria liturgia, cujos cânticos e lições nos incitam á penitência e á conversão, enquanto as Orações imploram para nós o perdão e a graça.

(Missal Quotidiano – 1936)

Nenhum comentário:

Postar um comentário