segunda-feira, 21 de junho de 2010

Julgamento e punição pelos pecados

Em todas as coisas, considera o fim: que atitude assumirá perante o rigor do juiz? Nada lhe é oculto, nenhum presente o dobra e não aceita desculpas, mas julga segunda a reta justiça, miserável e louco pecador! Que responderás diante de Deus, que conhece todo o mal que fizeste, tu que tens medo de um homem encolerizado? Por que não precaver-te para o dia do julgamento? Naquela hora, ninguém poderá encontrar em outro desculpa nem defesa: cada qual será pesado fardo para si mesmo! É agora que teu labor produz frutos, que teus prantos podem ser aceitos, teus gemidos escutados, é agora que teu sofrimento pode compensar e purificar tua falta.
O homem paciente possui um salutar meio de purificação: acabrunhado pelas injúrias, desola-se mais com a maldade do outro do que com a injúria que lhe é feita; não hesita em orar pelos adversários e perdoar as faltas do fundo do coração; não tarda em pedir perdão aos outros; cede mais facilmente a misericórdia do que a cólera; sempre faz violência a si mesmo e esforça em todas as coisas por submeter a carne ao espírito.
É melhor expiar agora os próprios pecados e eliminar o mal em si do que deixar a purificação para mais tarde. Na verdade, o amor desordenado que dedicamos à natureza nos prejudica a nós mesmos.
Esse fogo devorará os teus pecados, nada além disso. Quanto mais te poupas agora e segue tua natureza, mais rude será o castigo que te espera e mais matéria guarda para ser consumida. A pessoa é mais gravemente punida por onde pecou mais. Lá os preguiçosos serão atormentados Poe aguilhões de fogo e os glutões atazanados por uma fome e sede imensas. Lá os sensuais e amantes das volúpias serão banhados de pez ardente e enxofre nauseabundo, e os invejosos berrarão de dor como cães furiosos.
Nenhum vício deixará de ter seu próprio suplício. Os orgulhosos serão cobertos de confusão e os avaros conhecerão as aflições da miséria e da indigência. Lá, uma hora se castigo será mais atroz do que cem anos de amarga penitência neste mundo. Lá, não existe repouso, nenhuma consolação para os condenados: aqui neste mundo, de tempos a tempos, vemos o fim do sofrimento e encontramos prazer nas consolações dos amigos.
É agora que deves preocupar-te com teus pecados e suportar os castigos que lhes são devidos, a fim de que no dia do julgamento estejas em segurança com os bem-aventurados. Então os justos se erguerão com grande firmeza, diante dos que os oprimiram e humilharam (Sb 5,1). Então estará de pé para o julgamento aquele que agora se submete humildemente aos julgamentos dos homens. Então o pobre e o humilde estarão cheios de confiança, ao passo que o orgulhoso será assaltado pelo medo de todos os lados.
Ent
ão se verá que era sábio neste mundo aquele que havia aprendido a ser louco e desprezado por causa de Cristo (ef. 1 Cor 4,10). Então se verá a utilidade de toda provação sofrida com paciência, e toda iniqüidade fechará a boca (Sl 106, 42). Todo homem de oração e alegrará e se afligirá todo ímpio. E natureza manifestará mais alegria pelo sofrimento suportado do que se tivesse sido sempre alimentada com Delícias; um hábito grosseiro resplandecerá, enquanto uma roupa de gala perderá seu brilho; uma moradia pobre merecerá mais louvores do que um palácio dourado; uma paciência constante será mais útil do que todo o poder do mundo; uma simples obediência será mais gloriosa do que toda a astúcia do mundo.
Então uma boa consciência produzirá mais alegria do que uma sábia filosofia; o desprezo pelas riquezas terá mais peso do que todos os tesouros da terra; uma oração ardente produzirá mais consolação do que saborosas iguarias; terás mais alegria por ter guardado silêncio do que por ter jogado fora milhões de palavras. Ali as ações santas terão mais valor do que muitas belas frases. Então vida austera e rude penitência parecerão preferíveis a todo o prazer terrestre.
Aprende a sofrer um pouco agora, a fim de seres, mais tarde, libertado, das penas mais graves. Começa treinando agora o que serás capaz de suportar mais tarde. Se não és capaz de sofrer agora nem um pouco, como poderás suportar os tormentos eternos? Se agora um leve sofrimento supera o que és capaz de suportar, que acontecerá quando estiveres na Geena? Na verdade, não podes experimentar as duas alegrias ao mesmo tempo: a das delícias do mundo e, mais tarde, a de reinar com Cristo (ef. Ap 20, 4).
Se até hoje tivesses sempre vivido nas horas e nos prazeres, de que te serviria tudo isso, se agora mesmo viesses a morrer? Tudo é vaidade (Ecl 1,2), a não ser amar a Deus e só a ele servir (Livro I, 1, 4). Quem ama a Deus de todo o coração não teme a morte, nem o suplício, nem o julgamento, nem o inferno. Porque o amor perfeito abre o acesso seguro para Deus. Não é de estranhar que aquele que ainda encontra prazer em pecar tema a morte e o julgamento. Contudo, se o amor não consegue arrancar-te do mal, convém que pelo menos o fogo do inferno a isto te obrigue. Quem coloca em segundo plano o temor de Deus não poderá permanecer por muito tempo no bem, pois depressa cairá nas redes do diabo.

Fonte:
A imitação de Cristo.

sexta-feira, 18 de junho de 2010


O Maná: pré-figura da Sagrada Eucaristia

Fonte:Catolicismo, junho de 1992


Saídos do Egito, os hebreus caminhavam agora pelo deserto. E sentindo fome, murmuraram contra Deus.
“E o Senhor falou a Moisés, dizendo: Eu ouvi as murmurações dos filhos de Israel; dize-lhes pois: à tarde comereis carnes e pela manhã sereis saciados de pães; e sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus”.
Codornas e maná
“Aconteceu, pois, de tarde virem codornizes, que cobriram os acampamentos; e pela manhã havia uma camada de orvalho em redor dos acampamentos. E tendo coberto a superfície da terra, apareceu no deserto uma coisa miúda à semelhança de geada sobre a terra.
“Tendo visto isto os filhos de Israel disseram entre si: Manhu? que significa: Que é isto? E Moisés disse-lhes: Este é o pão que o Senhor vos dá para comer. Ninguém deixe dele até (amanhã) de manhã. Mas eles não lhe deram ouvidos, e alguns conservaram até de manhã, e ele começou a ferver em vermes e apodrecer. Moisés, pois, irou-se contra eles.(1)
“Todos começaram então a apanhar quantidade suficiente para um dia. Só no sábado se conservava, porque, querendo Deus que esse dia lhe fosse exclusivamente consagrado e empregado em obras de religião, não fazia descer o maná; cada qual procurava, pois recolher o dobro na sexta-feira”.(2)
Possuía todos os sabores
“Alimentaste o teu povo com o alimento dos anjos, e deste-lhe o pão, vindo do céu, preparado sem trabalho, que tinha em si toda a delícia e a suavidade de todo o sabor.
"Porque este alimento mostrava a doçura que tens para com teus filhos, porque, acomodando-se à vontade de cada um, transformava-se no que cada um queria.(3).
"E os filhos de Israel comeram maná durante quarenta anos, até chegarem aos confins do país de Canaã".(4)
Deus “deu-te [ó Israel] por sustento o maná, que tu desconhecias e teus pais, para te mostrar que o homem não vive só do pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus".(5)
No tabernáculo durante séculos
“E Moisés disse a Aarão: Toma um vaso, e mete nele maná; e põe-no diante do Senhor para se conservar pelas vossas gerações. E Aarão o pôs no tabernáculo para ser conservado.(6)
“Por um outro prodígio, este mesmo maná, o qual não podia ser guardado de um dia para o outro sem se corromper, exceto no sábado, conservou-se numa urna do tabernáculo [e depois na Arca da Aliança] durante séculos”.(7)
Pré-figura da Sagrada Eucaristia
“O maná é figura da Sagrada Eucaristia, que conforta o homem a caminhar no deserto deste mundo, em direção à verdadeira terra prometida, que é o céu”.(8)
Disse Nosso Senhor aos judeus: “Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram. (Mas) este é o pão que desceu do céu, para que aquele que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo, que desci do céu. Quem comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que eu darei, é a minha carne (que será sacrificada) para a salvação do mundo”.(9)
“O novo maná, recebido com disposições convenientes, transforma-se em todos os desejos da alma fiel: fé, esperança, caridade, humildade, doçura, paciência, arrependimento filial, zelo ardente, coragem invencível, santa alegria”.(10)
Após ministrar a comunhão, fora da Missa, o sacerdote reza a seguinte oração:
“Vós lhes destes o pão do céu, que contém em si todos os sabores”.
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Notas:
1. Ex. 16, 11-20.
2. São João Bosco, História Sagrada, Livraria Editora Salesiana, São Paulo, 1965, 14ª.ed., p. 77.
3. Sb. 16, 20-21.
4. Ex. 16,35.
5. Deut. 8, 3.
6. Ex. 16, 33-34.
7. Padre Rohrbacher, Histoire Universelle de L’Égise Catholique, Gaume Frères, Paris, 1842, t.1, p.384.
8. São João Bosco, op. cit., p. 77.
9. Jo. 6, 48-52.
10. Padre Rohrbacher, op. cit., p. 384.