sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A Satíssima Virgem, a tradição e o Natal













O mundo moderno não dá o devido valor à verdadeira tradição.
Entretanto, mesmo recentes descobertas científicas a confirmam.





No mundo pragmático e materialista de hoje, em geral as pessoas costumam acreditar só naquilo que vêem documentado em papéis repletos de carimbos. Quanto ao Natal, por exemplo, muitos julgam legítimo pôr em dúvida quase tudo. Motivo? Onde está o papel escrito, a certidão provando que o nascimento do Menino Jesus foi no dia 25 de dezembro? Que ocorreu na cidade de Belém, a Bíblia o atesta, mas não precisa a data. Não será uma data convencional? Se não há uma certidão escrita, não há certeza...
Tal raciocínio despreza totalmente o valor da tradição, aquilo que nossos antepassados foram transmitindo de geração em geração.
Entretanto, justamente neste século adorador da ciência, esta vem confirmar a tradição. Não apenas nas maravilhosas descobertas sobre o Santo Sudário de Nosso Senhor, ou sobre a santa casa de Loreto, a ciência vem corroborando aquilo que a tradição sempre ensinou. Agora também, a respeito do Natal, a ciência vem confirmar que a tradição não mentiu. Como?


Nossa Senhora e a tradição



A uma pessoa com mentalidade católica, parece impossível pensar que a Santíssima Virgem não tivesse contado aos Apóstolos — e estes, por sua vez, não houvessem comunicado a seus discípulos — numerosas informações a respeito do nascimento do Divino Redentor. Entre elas, é óbvio, indicou a data de tão importante acontecimento. Não apenas isto, mas os fiéis devem ter guardado relíquias do memorável fato. Assim, por exemplo, o presépio onde Nosso Senhor nasceu encontra-se na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma.
A tradição católica sempre ensinou ser o dia 25 de dezembro a data do Natal. Nesse fato, pode-se vislumbrar ademais um simbolismo: é um dos dois períodos do ano em que a Terra está mais distante do sol. E Nosso Senhor teria querido nascer nesse dia, uma vez que os homens nunca tinham estado tão afastados de Deus, o sol de justiça.





O testemunho dos evangelistas





Lendo a Sagrada Escritura, verificamos que, dos quatro evangelhos, só dois falam do nascimento do Menino-Deus. Um deles é o de São Mateus, atestando que Nosso Senhor nasceu em Belém, no reinado de Herodes, o que determina a época, mas não a data. O Evangelho de São Lucas é bem mais detalhado, e fornece dados valiosos para se determinar a data exata do nascimento do Messias.
Esse texto bíblico começa narrando o nascimento de São João Batista. Diz que seu pai, o sacerdote Zacarias, estava prestando serviço litúrgico no Templo de Jerusalém quando lhe foi revelado pelo Arcanjo São Gabriel que lhe nasceria um filho — o precursor do Messias. E que, tendo terminado seu turno no Templo, retornou ele para sua casa, e poucos dias depois sua mulher, Santa Izabel, concebeu São João Batista. Aos seis meses exatos dessa concepção — prossegue o mesmo evangelista — deu-se a Anunciação a Maria (Lc 1, 26).

Assim, temos a possibilidade de conhecer a data do Natal: se soubermos qual a data em que São Zacarias oficiava no Templo, e sabendo que seis meses depois ocorreu a Anunciação, basta acrescentarmos nove meses para obtermos a data do Nascimento de nosso Salvador.





Descoberta arqueológica





Para as datas se ajustarem, São Zacarias deveria estar oficiando no Templo em fins de setembro. Seis meses depois chega-se ao mês de março, e após nove meses atinge-se os últimos dias de dezembro.
Os levitas do Templo de Jerusalém dividiam-se em 24 classes sacerdotais, que se revezavam todo o ano numa ordem imutável. Cada grupo prestava serviço durante uma semana, duas vezes ao ano. Sabemos que São Zacarias pertencia à classe de Abias, que era a oitava do elenco oficial.
A respeito dessa questão, pairava uma dúvida: ninguém conhecia as datas em que cada grupo oficiava, o que era um empecilho para determinar uma data com precisão. Mas recentemente se fez uma descoberta capital. Descreve-a o conhecido jornalista Vittorio Messori, em artigo intitulado Jesus nasceu verdadeiramente em 25 de dezembro, no diário “Corriere della Sera”, de Milão, em 9-7-03:
“Utilizando pesquisas desenvolvidas por outros especialistas e trabalhando sobretudo em textos encontrados na biblioteca dos essênios de Qumram, o enigma foi revelado pelo professor Shemarjahu Talmon, o qual ensina na Universidade hebraica de Jerusalém. Ou seja, o estudioso conseguiu precisar em que ordem cronológica sucediam-se as 24 classes sacerdotais. A de Abias prestava serviço litúrgico no templo duas vezes por ano, como as outras, e uma dessas vezes era na última semana de setembro. Portanto, era verossímil a tradição cristã oriental que situa entre 23 e 25 de setembro o anúncio a Zacarias. Mas tal verossimilhança aproxima-se da certeza porque, estimulados pela descoberta do professor Talmon, os estudiosos reconstruíram o fio daquela tradição, chegando à conclusão de que ela provinha diretamente da Igreja primitiva judeu-cristã de Jerusalém”.



A ciência e a tradição



Surpreendente? Sim e não. Sim, porque a forma encontrada para resolver o caso passa por um pequeno detalhe ressaltado no Evangelho: que São Zacarias pertencia à classe de Abias. Sim, também, pelo fato de ter sido a descoberta feita por uma pessoa que não é católica. Por outro lado não, porque até agora nenhuma pesquisa científica séria conseguiu contradizer os dados da tradição cristã.
Paira entretanto uma pergunta: por que existe tanto desprezo e desconfiança contra a tradição católica? Se analisarmos bem o problema, veremos que, no fundo, a razão disso é que ela revela a contínua intervenção de Deus na História.
Quantas vezes uma verdade poderia ter sido desvirtuada por boatos e mal-entendidos... O fato de que uma verdade comunicada no século I tenha chegado a nossos dias sem deformações, só pode ser explicado por um auxílio sobrenatural. Naturalmente falando, uma tal transmissão, atravessando os séculos e passando por povos diferentes, poderia ter-se deformado. Mas Deus protege sua Igreja, impedindo a distorção de uma verdade.
A tradição desperta igualmente a antipatia de certas pessoas contaminadas pela mentalidade moderna, segundo a qual tudo está em contínua mudança, devendo-se, em conseqüência, ter em vista mais o futuro e não o passado. Revelar até que ponto o passado está presente em nossos dias irrita tais mentalidades modernizantes e progressistas.
Mas, para alegria dos verdadeiros católicos, mais uma vez a tradição foi confirmada. E podemos agradecer a Nossa Senhora o nascimento do Verbo Encarnado na data já consagrada pelo decurso de tantos séculos.









Autor: Valdis Grinsteins Fonte: Catolicismo

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